domingo, 22 de dezembro de 2013

A CONSTRUÇÃO CIVIL

Ao observarmos hoje a construção de casas, edifícios, hospitais, ruas, praças, shoppings, e tantos outros equipamentos públicos e privados, constatamos que estamos evoluindo tanto tecnologicamente quanto socialmente, proporcionando melhores condições de vida à população. Mas, onde o setor da construção precisa melhorar?
É nítido o crescimento econômico na construção civil, responsável por 23% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Este valor do PIB corresponde à um amplo sistema de atividades que envolvem vários processos da construção civil, sendo estes compostos pela construção pesada, que envolve portos, aeroportos, hidroelétricas; pela extração de matéria prima, industrialização de produtos e equipamentos: setor de máquinas que auxiliam na construção, como caminhões, retroescavadeiras e guindastes; e produção de materiais construtivos, como aço, cimento e ferramentas.
Este setor é realmente amplo, mas igualmente grande é o desperdício de materiais, principalmente, durante a execução das obras. Pesquisas indicam que o setor da Construção Civil produz, aproximadamente, 30% de lixo produzido nas cidades. Ou seja, a cada três prédios e meio que são construídos, um é jogado fora. Consequentemente, os custos se refletem no valor final da obra e, além disso, acabam acarretando despesas nos meios de tratamento e remoção do entulho. Não podemos esquecer que todo este lixo conduz a um alto impacto ambiental devido a falta de local adequado para depósito, para seleção, reaproveitamento e reciclagem.
A construção civil é um segmento importante para a geração de empregos no Brasil. Com isto, o governo sempre aposta nesta área, até mesmo como forma de melhorar a campanha eleitoral e, talvez, este seja um dos motivos de apareceram sempre nos planos governamentais, projetos como o “Minha Casa, Minha Vida”, que geram resultados muito mais rápidos do que os investimentos em educação.
 A criação de empregos é um ponto positivo neste setor, empregando pessoas de variados níveis de escolaridade. Contudo, para os trabalhos mais operacionais a mão de obra nem sempre é qualificada. São poucas as instituições que oferecem cursos de capacitação e raras as empresas que investem em formação complementar aos seus funcionários. Por conta deste quadro, o desenvolvimento na área da construção civil deixa muita a desejar.
 O setor da construção civil é, obviamente, muito importante para promover o crescimento de qualquer nação. Entretanto, devemos garantir qualidade nos serviços e no ambiente de trabalho para todo o sistema construtivo e evitar impactos ambientais e sociais, que prejudicam na boa formação de nossas cidades.

Manoela Baratti Osmarini
Acadêmica da UFFS e integrante do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado originalmente no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - 3 de outubro de 2013

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

FRONTEIRAS DO MEDO

    A desconfiança e o medo presentes na cidade condicionam as interações sociais e separam os contextos marcados pelas diferenças. Ao mesmo tempo, a necessidade humana pela convivência social permite a formação de atividades coletivas e a utilização de ambientes públicos entre diferentes sujeitos e atividades. Mas, qual o equilíbrio entre a desconfiança e a interação de grupos sociais para a espacialização de um contexto coletivo mais satisfatório e seguro?
    As atividades urbanas e o uso das áreas livres públicas ocasionam situações (reais e hipotéticas) de perigo contra a integridade física e à saúde das pessoas: acidentes no trânsito, violência em áreas de conflito social, poluição do ar, barulho, insolação excessiva e a convivência forçada com sujeitos estranhos, que geram motivos para tonar a vida na cidade um risco constante.
    Reduzir esses riscos garantindo segurança e conforto nas metrópoles são serviços já prestados por empresas e instituições, que lucram com a insegurança e realçam ainda mais esta sensação quando abarcam com os efeitos do medo sem afetar suas causas. Carros blindados, sistemas de vigilância e condomínios murados tornam-se aparatos físicos que nos liberam da sensação constante de insegurança, ainda que delimitem nossa liberdade de ir e vir.
    A vida no ambiente urbano reduziu os riscos que eram onipresentes na vida selvagem junto ao ambiente natural. Porém, na maneira como a formação da cidade é conduzida na atualidade, a segregação dos grupos e indivíduos gera conflitos no espaço urbano onde as interações não são seguidas pelo reconhecimento das diferenças. A vida cotidiana promove encontros entre pessoas distintas em comportamento, etnia, gênero e classes sociais. Mas a criação de fronteiras a partir destas diferenças é o que gera uma cidade fragmentada e destituída de unidade na valorização do espaço público.
   Tais fronteiras são marcadas por diferentes distâncias e camadas de representação. Condomínios fechados, centros comerciais, clubes para associados, veículos particulares, formam subterfúgios para garantir maior segurança e isolamento, ao mesmo tempo em que definem novos padrões de comportamento para evitar a sensação de medo.
    Promover encontros segmentados entre grupos semelhantes é uma forma de garantir a interação social sem a geração de riscos por situações inesperadas. Tais convenções geram ambientes monótonos e situações previsíveis. Mas esse é o preço que se paga para evitar a insegurança do movimento aleatório da rua, onde coisas surpreendentes acontecem.

Marcos Sardá Vieira
Professor da UFFS e coordenador do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado originalmente no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - Novembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

OS DESAFIOS NA CIDADE DE HOJE

A cidade é detentora de funções e utilidades, mas ela pode transcender a isso, e ser pensada também como um lugar para subjetividades, que revelam os sentimentos e os gostos dos seus habitantes, formando a identidade cultural da cidade. O arquiteto e urbanista tem essa missão, juntamente com a população e outros setores da sociedade, de projetar cada espaço a fim de que ele atenda ao ser humano em todas as suas necessidades.
Hoje, todos somos habitantes e responsáveis pelo crescimento de nossa cidade. A população, juntamente com arquitetos, engenheiros e outros profissionais capacitados, devem buscar soluções viáveis, sustentáveis e que beneficiem o meio ambiente, a natureza, o ser humano. Expandir o pensamento às gerações futuras, observando que, o que estamos construindo hoje se refletirá nas consequências do amanhã.
A sociedade precisa de melhorias na área de segurança pública, no sistema de saúde, no setor educacional, entre outros. Contudo, com a situação política atual, isso só ocorrerá se a própria sociedade desejar e se empenhar para conseguir. Assim também são em outros setores que envolvem a cidade e os espaços públicos, pois eles são frutos da ação e dos anseios de seus habitantes. As manifestações que se espalham pelas principais capitais do país são um forte indício de apropriação do espaço público para promover mudanças, com garantia de uma cidade com melhor qualidade de vida para os seus moradores.
As calçadas, ciclovias, áreas de lazer, praças e, em geral, as áreas livres públicas, podem ser os primeiros locais de investimentos. Lugares onde o pedestre tenha o seu espaço valorizado, amplo, acessível, abrangente e utilizável. Reconhece-se que há necessidade de ampliação dessas áreas públicas, tendo por diretriz um planejamento urbano que atenda a demanda existente, e faça previsões do futuro crescimento.
A solução não precisa partir de um início tão complexo. Uma frase do livro “Manual do Arquiteto Descalço” ilustra bem essa realidade da mudança lançada através de elementos simples: “Nada é tão complexo quanto querem os vendedores de complexidade. (…) E eles não sabem que é criando a partir de elementos simples, fáceis de ser implantados, que teremos o começo de um sistema mais avançado no futuro.”
A partir do lançamento de propostas que visam à otimização dos espaços, através de soluções sustentáveis, agradáveis esteticamente, acessíveis, que garantam a segurança e atendam as necessidades da comunidade, e tendo o interesse da própria comunidade, com certeza o resultado disso será um crescimento ordenado e próspero da cidade. Difícil? Pode ser, mas os desafios costumam mobilizar diversos setores, sendo a mola mestra para o desenvolvimento.

Paula Gisele Gomes
Acadêmica da UFFS e integrante do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - 20 de junho de 2013

sábado, 23 de novembro de 2013

SENTINDO A PRAÇA

Qual o significado de uma praça para aquelas pessoas que eu vejo se divertindo e rindo, ou até mesmo para aqueles que têm um olhar vago, andando de lá para cá? Como explicar a influência que a praça possui para o edifício em construção, estático, por trás de árvores que acolhem em suas sombras crianças a brincar? Qual sentido ela possui para mim, sendo somente mais um indivíduo a ocupa-la? Sem nos darmos conta da complexidade de uma simples praça, passamos a não enxergá-la em nossa rotina.
Analisando mais profundamente este espaço, ele não se dá apenas como um elo, unindo partes da cidade, mas é também uma forma de expressão social, na ocupação e na permanência de pessoas que buscam lazer, atividade física e demonstrações culturais, como feiras livres, apresentações de dança e música. Geralmente, com ausência de área construída, a praça recebe mobiliário urbano (bancos, lixeiras, bebedouros, etc.) para atender seus usuários, como as populares academias ao ar livre. Para muitos, a praça é um espaço aberto que torna-se uma rota de fuga do estresse, do trabalho e do congestionamento, fatores recorrentes nos centros urbanos.
Legado de muitas paixões e sede de amores proibidos, acolhedora de homens sem rumo e grandes generais, algumas praças tornam-se famosas, como a Piazza Erbe (Praça Erbe) em Verona, palco do eterno amor de Romeu e Julieta. Ou a Piazza Barberini (Praça Barberini) em Roma, que abriga a Fontana del Tritone (Fonte de Tritão), uma das primeiras fontes esculpidas por Bernini. Estes dois exemplos, localizados na Itália, mostram a importância de uma praça para a própria formação cultural e histórica de uma civilização.
No contexto brasileiro, a representação da praça no cenário urbano apresenta menor destaque na delimitação do espaço público e na apropriação efetiva como área de lazer, diferente do espaço público que é voltado para as atividades de consumo. Por serem espaços abertos e públicos, as praças acabam abandonadas por falta de manutenção, tornando-se lugares desqualificados e perigosos. Este espaço, quando mal cuidado, perde seu valor e acaba se tornando mais um problema inserido na infraestrutura urbana.
Confiante na importância das praças urbanas, o jurista Paulo Affonso Leme Machado, defensor do direito ambiental brasileiro, relata que “a praça não deve ser conservada porque é uma paisagem notável. Mas simplesmente - e basta- porque é uma praça”.
Por fim, valorizar uma praça, por seu uso e sua função na cidade, é respeitar o próprio indivíduo que a frequenta, como a criança, o expectador e, até mesmo, as pessoas que não a percebem de imediato. Cada qual deixa sua marca neste espaço, seja de forma positiva, como em feiras e eventos abertos ao público, apresentações culturais e atos pessoais, ou de forma negativa, depredando e sujando este importante espaço de refúgio coletivo, que é nosso legado na história.

Manoela Baratti Osmarini
Acadêmica da UFFS e integrante do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - 1, 2 e 3 de junho de 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

AS ARTÉRIAS DAS CIDADES

     Da mesma forma que os seres vivos possuem seus vasos sanguíneos, as cidades possuem suas ruas e avenidas, que se comparadas às veias e artérias, apresentam a mesma importância na escala urbana. Assim, semelhante ao que acontece com os seres vivos, a cidade também pode enfrentar problemas com seu sistema circulatório, caso este venha a ser mal planejado.
     Se analisarmos as vias em Erechim, podemos encontrar deficiências, principalmente no que diz respeito à falta de acessibilidade. Em senso comum, o termo é entendido e destinado com exclusividade às limitações relacionadas aos portadores de necessidades especiais. Entretanto, deve-se levar em consideração que o termo refere-se aos usuários de modo geral e, em sentido amplo, trata da mobilidade sem que haja barreiras ou limitantes.
     Nesse sentido, analisando Erechim a partir da normatização (NBR-9050) sobre acessibilidade em espaços urbanos, constataremos que as áreas abertas da cidade deixam a desejar quanto a livre circulação, principalmente para as pessoas portadoras de necessidades especiais. Além da topografia acidentada ser um fator negativo para o pedestre, há carência em se tratando de rampas e na delimitação do espaço entre as ruas e as calçadas, o que é facilmente perceptível para aqueles que necessitam deste tipo de mobiliário urbano, como gestantes, deficientes visuais e idosos.
     Ainda, outro aspecto desfavorável está no tipo de pavimentação utilizada e na falta de manutenção de calçadas e vias. Em virtude disso, é comum encontrarmos passeios onde há lajotas soltas, configurando-se um problema principalmente em dias chuvosos, onde uma pisada em falso pode significar roupas e calçados molhados. Também, podem ser verificados problemas gerados pelas raízes das árvores, que acabam deixando algumas áreas da cidade intransitáveis.
     Em todos os casos, é de extrema importância entender que as vias públicas são essenciais para o pedestre, pois a partir delas as cidades ganham vida. Mais que reconhecidas, as calçadas e passeios devem ser bem pensadas e preservadas. O calçadão em Copacabana, no Rio de Janeiro, é um exemplo de como uma via pública pode configurar e melhorar um espaço urbano. Além de apresentar-se um ponto turístico, possuindo superfície em pedras portuguesas, o passeio convida os transeuntes a caminhar em seu percurso na orla da praia. Projetado pelo famoso paisagista brasileiro, Roberto Burle Marx, este calçadão passa a sensação de movimento através de seu desenho e proporciona um espaço de lazer e uma ampla circulação para o pedestre.
     Todavia, dado o perfil dinâmico dos habitantes e a atual situação em que as vias públicas encontram-se em Erechim, acreditamos que muito pode ser feito no que se refere a melhorias e a implantação qualificada dessas áreas. Tendo em vista que ruas e avenidas são os pontos que ligam os espaços das cidades, conectando bairros, é de extrema importância que elas venham a facilitar a vida do pedestre, criando relações harmônicas no que diz respeito aos habitantes e seu ambiente construído. 

Kauê Lima
Acadêmico da UFFS e integrante do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - 4 de julho 2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ERECHIM, CRESCENDO COM QUALIDADE?

     As primeiras técnicas para ordenar as ruas e edifícios das cidades foram há 3.500 a.C. Atualmente, mais da metade da população do mundo mora em cidades e no ano de 2050 estima-se que serão 75%. Acontece que o planejamento urbano ainda tem como principal efeito a construção ou reconstrução de espaços que organizem o crescimento das cidades.
     É do consenso da maioria dos moradores a melhoria da sua cidade. Porém, o desacordo de opiniões começa quando discute-se como será essa melhora. Transporte público de qualidade, áreas verdes, calçadas, ciclovias são alguns dos itens em comum. O fato é que em meio à variedade de necessidades pessoais, escolher parâmetros e critérios para construir uma cidade em que agrade ou supra todas as pessoas não é prioridade para a administração pública, mais preocupada com os acordos econômicos e processos de reeleição.  Temos o bom exemplo de Copenhague, capital da Dinamarca, com 93% de satisfação de seus moradores; o ponto foi o interesse na qualidade da cidade para as pessoas.
     “Sabemos tudo sobre o habitat ideal de qualquer mamífero da face da Terra, menos do Homo Sapiens, e não é nisso que a maioria dos urbanistas pensa ao fazer um projeto para uma cidade”, palavras do planejador urbano Jan Gehl, explicando que as soluções e projetos precisam ser locais e adaptadas à realidade de cada cidade, mas há algumas normas imprescindíveis para que os moradores tenham qualidade de vida.
     É muito mais agradável caminhar por uma cidade planejada para ser observada pelas pessoas. A arquitetura de grande escala não valoriza a relação das pessoas com os espaços. Em vez de planejar a cidade vista de baixo, planejam como se vista da janela de um avião. Primeiro os edifícios, depois os espaços livres e depois, finalmente, preocupam-se um pouco com as pessoas. Com 8 milhões de habitantes, Nova York pode ser um grande exemplo onde melhores condições urbanas podem acontecer quando a cidade se preocupa mais com as pessoas, mesmo em meio à heterogeneidade humana.
     Para estabelecer um senso comum temos que contemplar a maior diversidade possível de pessoas nos espaços públicos. É preciso ter espaços para crianças, jovens, idosos, ciclistas, pedestres, motoristas e pessoas com necessidades especiais de locomoção. Se todos têm seu lugar, a convivência tende a ser mais harmônica.
     Nesse contexto, como você se sente ao caminhar pelas ruas de Erechim? Como ela está crescendo? Uma cidade planejada para o bem-estar dos erechinenses ou transformada para os carros e edifícios? Para existir uma cidade para as pessoas precisa haver comum acordo entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade participativa. É um processo contínuo e sem fim.  
Rafael Augusto Garbin
Acadêmico da UFFS e integrante do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - 17 de Outubro 2013

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

DESRESPEITO AO ESPAÇO PÚBLICO

Praça Jayme Lago, Erechim/RS. 26/10/2013. Foto: Manoela Osmarini

"(...) valorizar uma praça, por seu uso e sua função na cidade, é respeitar o próprio indivíduo que a frequenta, como as crianças, os expectadores e até mesmo as pessoas que não a percebem.”
Texto "Sentindo a Praça", por Manoela Osmarini